Coluna: As Bruxas de Salém
As Bruxas de Salém, sobre a cultura do ódio e a histeria da humanidade.
Imagem via Satyros |
A companhia de teatro Os Satyros sempre será reconhecida por
apresentar trabalhos potentes que causam um grande impacto dentro do contexto
em que vivemos. Tenho um amor platônico pela companhia e admiro profundamente o
trabalho de Rodolfo Garcia Vázquez e Ivam Cabral.
A peça " As Bruxas de Salém" estreou no dia 17 de
junho no Espaço dos Satyros , sempre com as sessões lotadas. Baseada no texto clássico de
Arthur Miller, escrito em 1953, a peça retrata uma história real que ocorreu em uma pequena Cidade , chamada Salém, em Massachusetts, Estados Unidos, em 1692.
A ideia para a peça partiu de Rodolfo Garcia Vázquez e Ivam
Cabral, e o trabalho dramatúrgico foi realizado por Luís Holiver e Sabrina
Denobile. A direção ficou a cargo de Rodolfo. " As Bruxas de Salém" conta
a história de uma pequena cidade de origem britânica puritana em Massachusetts,
onde a igreja exercia um controle absoluto. Cerca de 200 pessoas foram presas
e acusadas de bruxaria, das quais 20 foram condenadas à morte, sendo cinco
delas executadas no mesmo dia do julgamento. A bruxaria era punida com a forca.
Arthur Milller, na verdade pontuou de uma forma sutil sobre a histeria Macarthista,
que aconteceu nos estados Unidos, durante a guerra fria, um período de caça e perseguição
aos comunistas, sendo acusados de traição ou subversão.
Na verdade, foi um caso de histeria coletiva que resultou em
uma tragédia devastadora. A caça às bruxas só chegou ao fim quando o governador
William Philips interveio e decretou o fim dos julgamentos. Anos depois, em
1702, reconheceu-se publicamente o erro do julgamento, considerando-o ilegal. A
colônia determinou que os nomes dos condenados fossem limpos e concedeu uma
compensação financeira para seus herdeiros. No entanto, pasmem, foi somente em
1957 que o Estado de Massachusetts pediu desculpas pelo ocorrido.
Na adaptação da companhia de teatro Os Satyros, a peça
contextualiza-se com o nosso mundo atual, refletindo tudo o que tem ocorrido desde o período sombrio trazido pela ascensão da extrema direita no Brasil, com
a negação da ciência, a apologia às armas, o ódio, como notícias falsas, o
cancelamento nas redes sociais, o ódio pela população LGBTQIAPN+ , e também aos
artistas. Esse ódio culminou na tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro
de 2023.
Nesse contexto, a peça se passa na cidade de Salém, no
século XVIII, onde uma grande histeria toma conta da população, quando
adolescentes acusam várias mulheres da comunidade de bruxaria. Essas emoções se
multiplicam, causando medo e paranoia, dividindo a cidade entre os que
acreditam e os que duvidam. O fato é que as bruxas de Salém evocam os ciclos
repetitivos da humanidade, a própria histeria coletiva, a moralidade e
expressamente da cultura do ódio.
O texto de Arthur Miller continua extremamente atual,
provando que a humanidade evoluiu muito pouco. Sabemos no que o fanatismo e a
intolerância resultaram: guerras, o holocausto e tantas tragédias
intermináveis. São 140 minutos de um trabalho primoroso e poderoso que não se
pode perder!
Em nome dos Deuses do Teatro, não deixem de assistir!
Arquivo Pessoal |
Arquivo Pessoal |
Arquivo Pessoal |
Um elenco dos Deuses !!
Foto: André Stefano |
O elenco é composto por trinta e três atores, todos muito talentosos e maravilhosos. Destaque para a performance de Henrique de Mello, que interpreta John Proctor. Sua atuação é uma verdadeira aula, ele incorpora o personagem com intensidade, coragem e entrega.
Mariana França também me surpreendeu com sua interpretação
da personagem Tituba. Acompanho o trabalho de Mariana há muito tempo e fiquei
emocionada ao vê-la em cena. Seu olhar transmite uma intensidade única, ela
atua com olhos, é uma qualidade para poucas atrizes.
Eliza Barbosa é impressionante como a Esposa de John
Proctor. Existe uma tenuidade profunda em seu olhar, e gestos, que transmite uma gama de
emoções.
Julia Bobrow é simplesmente maravilhosa como a jovem Abigail
Williams. Sua atuação é cativante e envolvente, ela dá vida ao personagem de
forma brilhante.
Não posso deixar de mencionar a interpretação tocante de
Marcia Dailyn como a matriarca. Em vários momentos, ela nos toca com sua
presença em cena, e suas lágrimas ficaram gravadas em minha mente.
Outro momento inesquecível é quando o ator Daj canta junto
com os atores negros do elenco. Essa cena é única e mostra a potência e as
perspectivas que dialogam em torno do texto dos Satyros.
Destaque também para o ator Eduardo Chagas, com sua construção minuciosa, alinhada e pontual.Ele é um grande mestre para mim.
O conjunto do elenco é impressionante, cada ator traz uma
contribuição única para a peça. É uma experiência imperdível presenciar a
atuação desses talentosos atrizes e atores.
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: André Stefano |
Foto: Rafa Marques |
Foto: Rafa Marques |
Foto: Rafa Marques |
Foto: Rafa Marques |
Foto: André Stefano |
Idealização: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Texto: Arthur Miller
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Alana Carrer, Alessandra Nassi, Alex de Felix, Aline Barbosa, André Lu, Anna Paula Kuller, Bruno de Paula, Cristian Silva, Daj, Diego Ribeiro, Diogo Silva, Eduardo Chagas, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Georgia Briano, Guilherme Andrade, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Heyde Sayama, Ícaro Gimenes, Jéssica de Aquino, Julia Bobrow, Karina Bastos, Laura Molinari, Luís Holiver, Marcia Dailyn, Mariana Costa, Mariana França, Morena Marconi, Pri Maggrih, Sabrina Denobile, Suzana Horácio e Vitor Lins
Assistência de Direção: Guilherme Andrade
Tradução: Rodolfo García Vázquez
Dramaturgismo: Luís Holiver e Sabrina Denobile
Figurino: Elisa Barboza e Marcia Dailyn
Cenário: Thiago Capella
Iluminação: Flávio Duarte
Sonoplastia: Coletiva
Preparação Vocal: André Lu
Operação de Luz: Flávio Duarte
Operação de Som: Gabriel Mello
Produção: Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Gabriel Mello e Maiara Cicutt
Realização: Os Satyros
Atriz, Performer, Dramaturga e Roteirista. Estudou interpretação Teatral(Unirio). Graduada em Produção Audiovisual(ESAMC). Apenas uma Artista que vende sonhos em dias cinzentos. E quando os dias não forem tão trevosos, ainda assim continuarei a vender meus sonhos!! Cores, abraços, afetos, lua em aquário... |
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