Como surgiram os RPGs eletrônicos japoneses?
Conheça mais sobre o nascimento desse gênero fantástico.
Um JRPG é um gênero que nasceu no Japão, misturando
influências ocidentais com mitos e narrativas tipicamente japonesas. Está
sempre em evolução, incorporando elementos de outros tipos de jogos, como adventures
e visual novels, além de outros gêneros constantemente incorporarem suas
características, como o metroidvania.
Para entender a origem dos JRPGs, precisamos voltar no tempo. Em 1977 foi lançado Dungeons & Dragons (D&D), o primeiro jogo de RPG de mesa do mundo. Inicialmente enfrentaram resistência e sendo rotulados como "jogos do diabo" em virtude do pânico satânico criado nos EUA por pessoas e entidades ligadas à religião e, mesmo assim, esses jogos rapidamente se popularizaram, oferecendo momentos de lazer e confraternização.
Dungeons and Dragons é muito influente para a concepção de muitos jogos eletrônicos. Fonte: Divulgação |
Com o sucesso de D&D e a popularização dos computadores
domésticos, não demorou para que os conceitos deste jogo fossem adaptados para
os jogos eletrônicos. Dungeons & Dragons forneceu o modelo básico,
com sistemas de turnos para organizar as ações e os ataques a e progressão de
personagens ao longo da história. Contudo, o foco das versões eletrônicas fica
restrito a uma experiência individual, ao contrário de suas contrapartes analógicas.
Os primeiros RPGs para computadores, como Dungeon
de Don Daglow e dnd de Gary Whisenhunt e Ray Wood, revelaram o
potencial desse formato, embora fossem inacessíveis para a maioria das pessoas devido
ao alto custo dos computadores da época, uma vez que surgiram quando ainda não
se tinha em mente a possibilidade dos computadores serem usados em casa. Dungeon
(1975-1976) foi inspirado em D&D e inovou ao implementar gráficos em linha
de visão e IA para NPCs. Já dnd (1974-1975), desenvolvido para o sistema
PLATO, sistema usado em universidades principalmente para a educação,
introduziu conceitos importantes, como chefes de fase.
Fonte: Divulgação |
Apesar dessas inovações, foi com o lançamento de Ultima (1981), criado por Richard Garriott, que o gênero deu seus primeiros passos e ficara mais parecido com o que conhecemos. O jogo foi elogiado por sua vasta exploração e personagens interativos. Paralelamente, Robert Woodhead e Andrew C. Greenberg desenvolviam Wizardry, um dungeon crawler focado em combate e exploração de masmorras, que se tornou popular por sua estrutura desafiadora.
Esses jogos logo chegaram ao Japão, inspirando títulos como The
Tower of Druaga (1984), Mugen no Shinzou (1984) e Dragon Quest
(1986). Este último, criado por Yuji Horii e lançado pela Enix, estabeleceu as
bases temáticas e mecânicas dos JRPGs, com sua narrativa envolvente,
personagens memoráveis e um sistema de combate acessível e mais intuitivo. O
sucesso foi tanto que gerou um fenômeno cultural no Japão, resultando na
"Lei do Dragon Quest", que regulava os lançamentos para evitar que
jogadores faltassem à escola ou ao trabalho.
Outro marco na história dos JRPGs foi Final Fantasy
(1987), criado por Hironobu Sakaguchi e lançado pela Square. Concebido como o
último projeto da empresa, o jogo se tornou um sucesso estrondoso,
estabelecendo novos padrões em narrativa, desenvolvimento de personagens e
combate em turnos, solidificando o que se espera de um JRPG.
A importância da franquia Final Fantasy também permitiu que
o gênero não ficasse restrito apenas ao Japão, com versões traduzidas em inglês
para o Super Nintendo. Com esse sucesso, muitos outros jogos seguiram o mesmo
caminho, como Phantasy Star (tentativa da SEGA de se popularizar no
gênero), The Legend of Dragoon, Chrono Trigger, Xenogears,
Lufia e Star Ocean, que brilharam no Super Nintendo e no
Playstation.
Contudo, levou muito tempo para os ocidentais entrarem de cabeça
no JRPG. Ainda eram um jogo de nicho, com um público menor e cativo, uma vez
que entre os anos 1980 e 1990, os jogadores de console americanos, europeus e, por
que não, brasileiros, davam preferência a títulos com mais ação.
Na metade dos anos 1990 isso mudaria, com a chegada de Final Fantasy VII. Mas isso é uma história para um outro texto.
Formado em Letras, especialista em Língua Portuguesa e Literatura, além de alguns cursos aqui e ali sobre língua inglesa. Possuo um site / podcast para falar de música alternativa, faço umas músicas experimentais ruins e sou aficionado por RPG e jogos analógicos (vulgo jogos de tabuleiro). |
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